quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Carta a um amigo - 1

Amizade não é uma profissão, nem é necessária para todos. Eu as vezes também prefiro ficar no computador e com meus livros. Mas isso também só tem graça quando posso repartir, discutir, aprender com uma pessoa. Ainda que esteja fazendo uma troca com alguém, ainda assim, estou pensando em mim! Quando no entanto, eu sento pra escutar uma pessoa, sei que estou ali! Presente, inteira! E que há uma “ terceira presença”, que nos acolhe e acompanha, isso tem ficado tão claro! Não posso resolver o problema pela pessoa, posso só escutar, num primeiro momento e nesta escuta, passar um pouco da ternura de Deus. Mas também isso vai além de mim: nesta escuta, Deus está presente! Mesmo que a pessoa seja ateia ou desiludida. De alguma forma, algo acontece, e isso dá esperança para ela e para mim. Mas é e não é por mim ! É, em parte, porque sou eu, que estou ali, e que depois de um relato mais pesado, fico com dores na alma e o corpo, todo dolorido. Tem seu "preço": é o de se importar. E os meus ouvidos, minha postura corporal, meu intelecto, minha formação, meu humor, minha vida e meu olhar se dirigem ao outro. E eu não consigo fazer isso do nada: sou convidada a percorrer com a pessoa sua história, me faço caminhante e peregrina com ela, e sirvo de apoio naquele trajeto.
E um dia, a caminhada termina e nos despedimos. É comum eu ouvir: você sabe mais a respeito de mim que meu marido, ou mulher ou melhor amigo. E eu me sinto muito honrada, porque sou depositária fiel de algo que é sagrado: a historia de vida daquela pessoa. Que até pode não ter sido realmente assim, mas foi como ela vivenciou e confiou em mim a ponto de me contar.
As despedidas físicas são difíceis quando o compartilhar virou afeto. Mas é um risco que eu corro sempre: sofrer com as separações, porque de alguma forma o apego se deu em mim também. Mas a despedida significa, por outro lado, que aquela pessoa ficou mais "inteira" e pode prosseguir sem a muleta. Isso, quando há despedida, por que alguns fogem dela e do confronto com a realidade do desapego terapêutico. Mas tudo o que teve inicio, deve terminar uma dia, este é o ciclo da vida. É preciso um fechamento do contrato terapêutico para que eventualmente possamos continuar amigos. A trajetória da amizade também é terapêutica, mas é diferente, porque acontece por outras vias.
Te cuida, abraço,
Roseli
 

2 comentários:

  1. Parabéns, Roseli pelo lindo trabalho. Continue! O mundo precisa de mais pessoas assim.

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  2. Bela carta a sua Roseli! Realmente a amizade é terapêutica, pois ela é fruto do amor. Poderíamos dizer que a amizade é filha do amor. E, tanto um como o outro, sem dúvida, são transformadores. Parabéns pelo seu trabalho!

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